se nossos joelhos não doessem mais
Acredito que planejamentos financeiros são únicos e personalizados, mas existem dois pontos que são essenciais para que todo planejamento consiga parar de pé.
Temos aqui em casa uma das maiores coincidências que eu conheço:
Eu, o Anderson, meu marido, e o Bagan, nosso cachorro, já rompemos o LCA (ligamento cruzado anterior) do joelho esquerdo.
A nossa ligação com os joelhos é de longa data. Tudo começou há mais de 15 anos atrás, outubro de 2009. Marcamos nosso *primeiro encontro* depois dos nossos treinos, meu de vôlei e o do Anderson de futsal.
Esperei, esperei e nada. Nosso meio de comunicação era o chat do MSN; não tinha WhatsApp e não tínhamos nem trocado números de telefone ainda.
No fim das contas, o coitado rompeu o ligamento no meio do treino e foi direto de ambulância para o hospital, por isso me deu o bolo.
Três anos atrás, segundos depois dessa foto:
o galho terminou de quebrar, o Bagan saiu caiu de mau jeito e rompeu o ligamento do joelho esquerdo, coitadinho. (só queria deixar registrado publicamente que eu falei que não era para levantar ele tão alto) Bem mais forte que nós, se recuperou sem cirurgia e continua subindo e descendo os morros atrás dos carros como se nada tivesse acontecido.
Sempre demos risada da coincidência e mal sabia eu que minha hora chegaria. Ano passado, no meu primeiro campeonato de vôlei depois de ter voltado a jogar, rompi o ligamento do joelho esquerdo e eu, sim, tive que operar.
Se nas cirurgias do Anderson (foram 3 no mesmo joelho) ainda morávamos com os pais, éramos jovens e a maior preocupação era voltar a jogar, a minha teve novos contornos, inerentes à vida financeira de adultos.
Primeiro, o custo de fazer fisioterapia particular 3 vezes por semana (por 9 meses): além de ser uma despesa significativa a mais no orçamento, eu precisei diminuir vários horários de atendimento para conseguir incluir esse compromisso na agenda.
Aumento de despesa, diminuição de receita.
Além disso, como moramos na região metropolitana de Curitiba, ir para a fisio implicou também em gastar 3 vezes mais de gasolina. Fora as despesas da cirurgia, remédios, pomadas, pesinhos...
Com a cirurgia, precisei reaprender a caminhar, literalmente. Como é uma reconstrução grande e o período de recuperação longo, o corpo esquece e vão algumas sessões para o cérebro entender a mecânica de como dar um passo depois do outro.
Reaprendi a caminhar, entendendo que não é sobre onde você quer chegar, mas sobre conseguir dar o próximo passo e conseguir recalcular a rota sempre que preciso.
Tínhamos vários planos e objetivos para 2024, 80% dos quais precisaram ser refeitos. Tivemos que recalcular a rota rápido para não nos perdermos no caminho, reaprendendo a dar um passo e depois o outro para sair do lugar.
Mas o que nos salvou mesmo foi ter uma folga no orçamento mensal e uma boa reserva.
Passei a ter uma justificativa prática para diferença entre margem para imprevistos e um fundo de reserva.
A margem é o colete salva vidas. Um pedaço do orçamento mensal que você torce para não usar, mas quando precisa, agradece seu eu do passado por ter providenciado.
Imaginemos um barco afundando: o colete salva vidas vai te salvar de se afogar.
Mas se o barco tiver afundado muito longe da costa e for impossível de você, sozinho, nadar até terra firme, só um barco de resgate vai salvar a sua vida.
O colete é a margem, o barco salva-vidas é a reserva.
No nosso caso aqui, cada mês desde a cirurgia vestimos o colete para uma coisa diferente: remédios e saquinhos de gelo, meia de compressão, taxa da instrumentação cirúrgica, pomada e fita cicatrizante, pesinhos.
Gastos pequenos, mas não tão pequenos para não impactarem o orçamento do mês, gastos não recorrentes e que não podem ser previstos.
Um ponto bem importante: não acredito em regrinhas prontas para um bom planejamento financeiro. As únicas, únicas mesmo, nas quais eu insisto são a inclusão da margem e a construção de uma reserva - e ainda assim, precisamos adaptar e olhar caso a caso. Vamos a elas:
- A margem deve ser definida em uns 15% a 20% do seu custo de vida
- A meta da reserva é de 3 meses a um 1 ano do seu custo de vida
Tanto não acredito em regras prontas que dentro de cada uma existe bastante espaço para olhar caso a caso.
A reserva vai te socorrer nos imprevistos que geram gastos mais parrudos e que fogem do orçamento mensal planejado, por exemplo, queda no faturamento pela diminuição do trabalho e 3 sessões particulares de fisioterapia por semana, durante 6 meses.
Assim, o planejamento mensal se sustenta, sem prejuízo dos outros sonhos e objetivos acontecendo em paralelo.
Enquanto escrevo, o Anderson está deitado fazendo gelo e se recuperando da sua quarta cirurgia no joelho esquerdo que aconteceu ontem. Casal que opera o joelho junto permanece junto, imagino eu.
Mandem o bote salva-vidas.
Que todos os joelhos fiquem fortes e só se dobrem para agradecer as coisas boas que virão.
As fotos com o Bagan são sempre muito boas, haha!
Não tenho bote salva-vidas, pra enviar, mas envio um beijo a todos, queridos.
Fiquem bem ♥️